Fiat Punto vs. Toyota Yaris e Peugeot 208

23/11/2013 10:19

Este também pode ser o melhor verão da sua vida. Imagine que consegue cumprir o desejo de qualquer recém-encartado e comprar um 208, um Punto ou um Yaris? Com estas versões de potências de 69 cv e preços de saldo, o sonho pode estar mais perto da realidade.

Tirei a carta a carta em julho de 1992. À falta de melhor alternativa iniciei a minha vida de recém encartado ao volante de um AX 10 TRE que servia de segundo carro da família. Com 45 cv, o AX 1.0 estava longe de ser um “canhão”, mas gastava pouco (um argumento decisivo para um estudante que vivia da semanada e biscates) e tirava partido do baixo peso para se mexer com desembaraço em ambiente urbano ou proporcionar algumas (poucas) escapadelas ao sul do país. Na altura, o teto em vidro, o fecho centralizado e os vidros elétricos à frente eram quase um “luxo” e nem dava pela ausência de airbags, do ABS ou até de uma simples direção assistida. Um jovem que tire a carta hoje em dia, ou uma família que procure um segundo carro de caraterísticas mais urbanas, já dá como garantida a maioria do equipamento referidos e, mesmo optando por versões de acesso como as aqui presentes, conta com um reforço significativo na segurança ativa e passiva. O novo 208 1.0 VTi é um bom exemplo desta evolução. Mesmo sendo a forma mais acessível de ter um 208, o pequeno Peugeot de três cilindros já conta com controlo de estabilidade de série e a habitual panóplia de airbags. Já para não falar de elementos de conforto que, no caso deste nível Active, já incluem mordomias como o ar condicionado, os sensores de luz e chuva ou um écrã TFT sensível ao toque.

O Toyota Yaris 1.0 Comfort partilha boa parte destes argumentos, incluindo uma lista de equipamento muito completa e um económico motor 1.0, de três cilindros, com 69 cv. Já o Punto não acompanha os seus adversários na dotação de série, nem sequer é tão rigoroso na segurança passiva e ativa, sendo evidentes as ausências de elementos como os airbags laterais ou o controlo de estabilidade, mas com um preço promocional muito abaixo dos seus concorrentes, pode sempre optar por montar o referido equipamento e ainda sobra muito dinheiro para a gasolina. Até porque o Punto 1.2, mesmo sendo o único com sistema start/stop, é o mais gastador dos três. A culpa nem será tanto do único quatro cilindros aqui presente, mas antes de uma caixa de velocidades escalonada para “espremer” cada um dos 69 cv. Só assim se justifica que, apesar de ser mais pesado do que o 208 e de ter igual nível de potência, o Punto seja mais rápido nas acelerações e na maioria das recuperações. Neste ponto, o Yaris é amorfo, estranhamente... Ou talvez não, já que apesar de ser o mais pequeno do trio, o Toyota é o mais pesado.

20 anos de evolução

Voltando aos tempos do AX, a qualidade interior era um conceito que se desconhecia... Eu e os senhores da Citroën. Mesmo o Punto, que será o menos apurado dos três, está a anos-luz do “revolucionário” Citroën. Ainda para mais, ao longo da sua carreira comercial o utilitário da Fiat tem sido alvo de constantes evoluções neste campo. Esta última geração, por exemplo, viu boa parte do tablier ser revestida de um plástico muito mais agradável ao toque e até à vista. Infelizmente, a montagem ainda apresenta algumas falhas. O mesmo se aplica ao 208, que mesmo recorrendo a alguns bons materiais e de ter um desenho muito mais apelativo, também falha na montagem, sendo mais propenso a ruídos parasitas.

Já o Yaris é o melhor construído dos três, mas os plásticos rijos são propensos a riscos e, ainda que não pontuemos conceitos subjetivos como a estética, tem o desenho interior mais banal dos três. Só o écrã de 6,1” sensível ao toque dá uma nota de modernidade ao habitáculo do Yaris.

Ainda em relação ao habitáculo um dado curioso é que o Punto, o maior carro dos três com 4,07 metros de comprimento, é o menos habitável e o que oferece a bagageira mais pequena. No extremo oposto, o 208 faz muito melhor uso dos seus 3,96 metros de comprimento, oferecendo mais espaço para as pernas atrás e uma bagageira 36 litros maior do que a do Fiat e 25 litros mais generosa do que a do Toyota.

As aparências iludem

Como referimos, o Punto é prejudicado nos consumos pelo escalonamento curto da caixa, mas esta solução paga os seus dividendos nas prestações e, mais importante, na desenvoltura em baixos e médios regimes. Mesmo tendo o mesmo nível de potência, o Punto parece sempre muito mais enérgico em ambiente urbano, com uma resposta pronta e uma fluidez que torna a condução mais despachada. O 1.0 VTi do 208 tira partido do baixo peso do conjunto e também se mostra enérgico q.b, mas não é tão fluido na condução e mais propenso a ruídos e vibrações (o três cilindros não perdoa). O Yaris padece do mesmo problema, agravado pelo facto de o peso também não o ajudar.

A própria atitude do Yaris em estrada é muito mais virada para o conforto e facilidade de condução do que para a diversão. Aliás, este não será o mote de nenhum dos três, mas é óbvio que tanto o Punto como, em especial, o 208, estão muito mais focados no prazer que o ato de conduzir pode proporcionar. Mesmo a andar devagar...

O pequeno volante tipo kart do 208 pode parecer apenas um detalhe, mas só quem passa diretamente do Peugeot para um dos seus concorrentes é que nota a verdadeira diferença. De repente parece que todos têm volantes enormes e desproporcionados, embora com a vantagem de permitirem uma leitura imediata (e sem concessões) do painel de instrumentos... 

Economia à escala

Ter um carro não significa apenas juntar dinheiro para a gasolina, tem de pensar nas manutenções, no imposto de circulação e no pagamento da mensalidade (partindo do principio que este não resultou de um “paitrocinio”). Das três, o Punto é a proposta mais amiga da carteira. Não só porque tem o preço de venda mais baixo como é o único com intervalos de manutenção de 30 000 km (15 000 km para o Yaris e 20 000 km para o 208).

Longe vão os tempos do saudoso AX, mas é curioso como passados tantos anos, e depois de tão profundas evoluções, voltam a estar em voga conceitos como o baixo peso e o downgrade de motores, para minorar os custos de aquisição e utilização. Mudaram os tempos, mas não se alteraram assim tanto as vontades.